Os domínios morfoclimáticos são grandes unidades geográficas que combinam características do relevo (morfologia) e do clima. Esses domínios agrupam áreas com paisagens semelhantes em termos de vegetação, solo, hidrografia e dinâmica natural. O conceito foi desenvolvido pelo geógrafo brasileiro Aziz Ab’Saber para entender a diversidade de paisagens naturais no Brasil.
Domínio Amazônico
O Domínio Amazônico é uma vasta região que cobre grande parte da bacia hidrográfica do Rio Amazonas e seus afluentes, englobando estados do norte do Brasil, como Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima e Amapá.
Clima
Equatorial úmido: O clima é quente e úmido durante todo o ano, com temperaturas médias elevadas, geralmente entre 25°C e 28°C. A região recebe grandes volumes de chuva, frequentemente ultrapassando 2.000 mm anuais, com chuvas bem distribuídas ao longo do ano e pouca variação sazonal.
Vegetação
- Floresta Amazônica: A vegetação é extremamente densa e diversa. A floresta é perene, com árvores que podem alcançar mais de 50 metros de altura. É uma das áreas com maior biodiversidade do mundo, abrigando uma grande variedade de espécies de plantas, animais, insetos e microorganismos.
- Estratificação: A floresta é estratificada em vários níveis, desde o dossel superior até o sub-bosque, cada um com suas próprias espécies vegetais e animais.
Relevo
- Planícies e depressões: O relevo predominante é de planícies aluviais e depressões, mas também existem áreas de planaltos e terras altas, como as Guianas.
- Soterramento e sedimentação: Devido à grande quantidade de rios, há um processo contínuo de sedimentação nas planícies, com solos frequentemente inundados.
Solos
- Latossolos e argissolos: Os solos da Amazônia são, em geral, pobres em nutrientes, uma vez que a maior parte dos nutrientes está na biomassa viva, especialmente na camada superficial de folhas e matéria orgânica que recobre o solo.
- Reciclagem de nutrientes: A rápida decomposição da matéria orgânica e a reciclagem dos nutrientes pela densa vegetação compensam a pobreza do solo.
Hidrografia
Rede hidrográfica extensa: A bacia Amazônica possui uma das mais extensas e volumosas redes hidrográficas do mundo, com rios como o Amazonas, Negro, Solimões e Madeira. Esses rios são fundamentais para o transporte e a vida na região.
Domínio da Caatinga
O Domínio da Caatinga abrange grande parte do Nordeste brasileiro, estendendo-se por estados como Ceará, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe e Piauí. É caracterizado por condições semiáridas, com vegetação adaptada à escassez de água.
Clima
Semiárido: O clima é quente e seco, com temperaturas médias anuais em torno de 26°C a 28°C. As chuvas são escassas e irregulares, concentradas em poucos meses do ano, geralmente variando entre 300 mm e 800 mm anuais. Os longos períodos de seca são uma característica marcante.
Vegetação
- Caatinga: A vegetação é composta por plantas xerófitas, adaptadas ao clima seco. São comuns árvores e arbustos de pequeno porte com folhas espinhosas, raízes profundas e caules suculentos que armazenam água. Durante os períodos de seca, muitas plantas perdem suas folhas para reduzir a evapotranspiração.
- Plantas típicas: Entre as espécies típicas estão o mandacaru, o xique-xique, o umbuzeiro e várias espécies de cactos e bromélias.
Relevo
- Planaltos e depressões: O relevo é composto por planaltos e depressões intercaladas por serras e morros isolados, como o sertão e as chapadas. Em muitas áreas, o terreno é pedregoso e árido.
- Erosão: A região é suscetível à erosão, especialmente em áreas desmatadas, onde a perda da cobertura vegetal agrava o processo.
Solos
- Solos pedregosos e pouco profundos: Em geral, os solos são pouco profundos e pedregosos, com baixa fertilidade. Há áreas de solos salinos e alcalinos, o que dificulta a agricultura.
- Soluções agrícolas: Técnicas como o uso de barragens subterrâneas, cisternas e a irrigação localizada têm sido implementadas para melhorar as condições agrícolas.
Hidrografia
Rios intermitentes: A hidrografia da Caatinga é composta principalmente por rios intermitentes, que só correm durante a estação chuvosa. Durante os períodos de seca, muitos desses rios secam completamente, formando leitos arenosos.
Domínio do Cerrado
O Domínio do Cerrado é a segunda maior formação vegetal do Brasil, cobrindo grande parte do centro do país. Abrange estados como Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Tocantins, parte de São Paulo, e o Distrito Federal. É uma região de grande importância ecológica e econômica.
Clima
Tropical sazonal: O Cerrado possui um clima tropical com duas estações bem definidas: uma estação chuvosa, que ocorre geralmente entre os meses de outubro e março, e uma estação seca, que vai de abril a setembro. As temperaturas são elevadas durante todo o ano, com médias entre 22°C e 27°C.
Vegetação
- Savana brasileira: O Cerrado é uma savana, caracterizada por uma vegetação composta por gramíneas, arbustos e árvores de pequeno a médio porte. As árvores têm troncos tortuosos e cascas grossas, adaptadas para resistir ao fogo e à seca.
- Biodiversidade: Apesar da aparência relativamente “seca”, o Cerrado é extremamente biodiverso, abrigando muitas espécies endêmicas de plantas e animais.
Relevo
- Planaltos e chapadas: O relevo do Cerrado é marcado por planaltos extensos e chapadas (grandes elevações com topo plano), como a Chapada dos Guimarães e a Chapada dos Veadeiros. Essas áreas são intercaladas por depressões e vales.
- Solos profundos: O relevo plano favorece a formação de solos profundos, embora geralmente sejam ácidos e pobres em nutrientes.
Solos
- Solos ácidos e pobres: Os solos do Cerrado são predominantemente latossolos, que são ácidos, pobres em nutrientes e com alta capacidade de drenagem. A vegetação local tem adaptações para sobreviver em condições de baixa fertilidade.
- Correção de solos: Para a agricultura, é comum a aplicação de calcário para corrigir a acidez e fertilizantes para suprir a carência de nutrientes.
Hidrografia
Berço das águas: O Cerrado é uma área de grande importância hídrica, sendo chamado de “berço das águas”, pois abriga as nascentes de importantes rios que alimentam as bacias hidrográficas do Amazonas, Tocantins, São Francisco e Prata.
Domínio dos Mares de Morros
O Domínio dos Mares de Morros é uma das regiões mais caracterizadas pela interação entre o relevo acidentado e a vegetação da Mata Atlântica. Abrange grande parte da região litorânea do Brasil, desde o Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte, passando por estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, e parte do sul da Bahia.
Clima
Tropical úmido: O clima é predominantemente tropical úmido, com chuvas bem distribuídas ao longo do ano. As temperaturas são amenas a elevadas, variando entre 18°C e 26°C. Em áreas mais elevadas, como as serras, o clima pode ser mais ameno.
Vegetação
- Mata Atlântica: A vegetação original é a Mata Atlântica, uma das florestas tropicais mais ricas em biodiversidade no mundo. É uma floresta densa, com árvores altas e uma grande variedade de plantas, incluindo epífitas (plantas que vivem sobre outras plantas, como orquídeas e bromélias).
- Desmatamento: A Mata Atlântica foi amplamente devastada ao longo dos séculos devido à exploração madeireira, à agricultura e à urbanização. Atualmente, resta menos de 12% de sua cobertura original.
Relevo
- Mares de morros: O relevo é marcado por morros arredondados e serras, formando um aspecto ondulado, conhecido como “mares de morros”. Esses morros são resultado da erosão intensa de antigas montanhas.
- Serras importantes: Algumas das serras mais conhecidas nesse domínio incluem a Serra do Mar, Serra da Mantiqueira e Serra Geral.
Solos
- Solos férteis e profundos: Os solos do Domínio dos Mares de Morros são, em sua maioria, profundos e férteis, especialmente nas áreas de planícies e vales. No entanto, nas áreas de relevo mais acidentado, há um alto risco de erosão, especialmente quando a vegetação original é removida.
- Erosão e deslizamentos: Devido ao relevo acidentado e à alta pluviosidade, a região é suscetível a processos erosivos e deslizamentos de terra, especialmente em áreas desmatadas ou ocupadas inadequadamente.
Hidrografia
Rios de planalto: A hidrografia da região é composta por rios que descem das serras e planaltos, formando cachoeiras e corredeiras antes de desaguarem no litoral. Estes rios são fundamentais para o abastecimento de água e para a geração de energia hidrelétrica.
Domínio das Araucárias
O Domínio das Araucárias abrange a região sul do Brasil, principalmente nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de partes de São Paulo e Minas Gerais. Esse domínio é caracterizado pela presença da Floresta de Araucárias, uma formação vegetal típica das áreas de clima subtropical.
Clima
- Subtropical: O clima do Domínio das Araucárias é subtropical, com estações bem definidas. Os verões são quentes, e os invernos podem ser rigorosos, com temperaturas que muitas vezes ficam abaixo de 0°C, propensas a geadas e, ocasionalmente, neve.
- Precipitação: As chuvas são bem distribuídas ao longo do ano, com uma média anual que varia entre 1.200 mm e 2.000 mm.
Vegetação
- Floresta de Araucárias: A vegetação predominante é a Floresta de Araucárias, caracterizada pela presença do pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia), uma árvore alta que pode chegar a 50 metros de altura. Essas árvores têm um formato distinto, com ramos dispostos em andares.
- Sub-bosque: Além do pinheiro-do-paraná, a floresta possui um sub-bosque rico em outras espécies, como imbuias, cedros, e diversas espécies de samambaias e bromélias.
Relevo
- Planaltos e serras: O relevo é predominantemente de planaltos e serras. As áreas onde a Floresta de Araucárias é mais comum são planaltos de altitudes variando entre 800 e 1.200 metros, como o Planalto Meridional.
- Solos férteis: Os solos são, em geral, férteis, principalmente os de origem vulcânica, conhecidos como terra roxa, muito adequados para a agricultura.
Solos
- Terra roxa: O solo característico desse domínio é a terra roxa, muito fértil e de coloração avermelhada, originada da decomposição de rochas vulcânicas. É amplamente utilizado para a agricultura, especialmente para o cultivo de café, trigo, milho e soja.
- Outros solos: Há também áreas com latossolos e nitossolos, que são profundos e bem drenados, mas requerem manejo cuidadoso para evitar a erosão.
Hidrografia
Rios de planalto: A região é rica em rios, que geralmente descem das áreas mais altas em direção ao litoral ou a grandes rios, como o Paraná e o Uruguai. Esses rios são importantes para a geração de energia hidrelétrica.
Domínio das Pradarias
O Domínio das Pradarias, também conhecido como Campos Sulinos ou Pampas, está localizado na região sul do Brasil, predominando no estado do Rio Grande do Sul. Este domínio faz parte do bioma Pampa, que se estende para o Uruguai e a Argentina. Vamos explorar suas principais características:
Clima
- Subtropical: O clima é subtropical úmido, com quatro estações bem definidas. Os verões são quentes, com temperaturas médias entre 24°C e 28°C, e os invernos são frios, com médias que podem ficar abaixo de 10°C, sendo comum a ocorrência de geadas.
- Precipitação: As chuvas são bem distribuídas ao longo do ano, com uma média anual entre 1.200 mm e 1.500 mm.
Vegetação
- Campos ou pradarias: A vegetação é formada principalmente por gramíneas e herbáceas, com poucas árvores, que aparecem isoladas ou em pequenos grupos. Este tipo de vegetação é conhecido como campos ou pradarias.
- Biodiversidade: Embora seja menos exuberante que outras formações, o Pampa possui uma rica diversidade de espécies de gramíneas, plantas rasteiras, e uma fauna adaptada às áreas abertas, como o tatu, a ema e várias espécies de roedores.
Relevo
- Planícies e coxilhas: O relevo é caracterizado por planícies e coxilhas (elevações suaves), que são ondulações leves no terreno. Essas formações criam uma paisagem suave e contínua, ideal para a pecuária extensiva.
- Áreas alagáveis: Em algumas partes, especialmente nas margens dos rios, há áreas que podem ficar temporariamente alagadas, criando ecossistemas de banhados.
Solos
- Solos férteis: Os solos das pradarias são geralmente férteis e profundos, com boa capacidade para a agricultura e pecuária. Eles são predominantemente argilosos e bem drenados.
- Erosão: A monocultura e o pastoreio excessivo podem causar problemas de erosão e degradação do solo, o que exige práticas de manejo sustentável.
Hidrografia
- Rios e banhados: A hidrografia do Domínio das Pradarias inclui vários rios que compõem a bacia do Rio Uruguai. Os rios são importantes para a irrigação, especialmente na agricultura de arroz, e há áreas de banhados que desempenham um papel ecológico importante.
Domínio das Faixas de Transição
- Características: Áreas de transição entre os domínios principais, como o Pantanal (entre a Amazônia, Cerrado e Chaco) e o Agreste (entre a Caatinga e Mata Atlântica).
- Clima e Vegetação: Variedades que mesclam características dos domínios vizinhos.
- Relevo: Diversificado, dependendo das regiões de transição.
Esses domínios são fundamentais para compreender a distribuição da biodiversidade e as dinâmicas naturais do Brasil. Eles também influenciam as atividades econômicas e os modos de vida das populações que habitam essas regiões.