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São Tomás de Aquino

São Tomás de Aquino (1225-1274) foi um teólogo e filósofo italiano da Idade Média, considerado um dos maiores pensadores da tradição escolástica. Suas obras mais influentes combinam teologia cristã com a filosofia de Aristóteles.

Vida e Contexto

  • Nascimento e Formação: Tomás nasceu na Itália em uma família nobre. Ingressou na ordem dominicana, dedicando-se ao estudo e ao ensino.
  • Estudos: Estudou em várias universidades europeias e foi aluno de Alberto Magno, um dos maiores intelectuais da época.

Principais Obras

  • Suma Teológica: Sua obra mais famosa, um compêndio abrangente de teologia cristã, dividida em três partes principais. Explora a existência de Deus, a criação, o propósito da vida humana e a ética.
  • Suma Contra os Gentios: Um tratado de apologética que visa explicar e defender a fé cristã para os não-cristãos.

Filosofia e Teologia

Integração da Filosofia de Aristóteles

  • Racionalidade e Fé: Aquino acreditava que a razão e a fé não são contraditórias, mas complementares. Ele via a filosofia de Aristóteles como uma ferramenta útil para entender e explicar verdades teológicas.
  • Metafísica Aristotélica: Ele adotou a concepção de substância e acidente, ato e potência de Aristóteles. Por exemplo:
    • Ato e Potência: Aquino utilizou essa distinção para explicar a mudança e o movimento, aplicando-a à existência de Deus como ato puro, sem potencialidade.
    • Causas: Ele incorporou as quatro causas aristotélicas (material, formal, eficiente e final) na sua análise do mundo e de Deus. Especialmente, a causa final (teleologia) foi crucial para sua argumentação de que todas as coisas têm um propósito dado por Deus.
  • Teoria do Conhecimento: Aquino concordava com Aristóteles que o conhecimento começa com os sentidos e a experiência, mas ele também acreditava que a razão pode levar ao conhecimento de Deus e de verdades metafísicas.

Harmonia entre Razão e Fé

  • Provas da Existência de Deus: As “Cinco Vias” de Aquino são exemplos de como ele usou a lógica aristotélica para demonstrar a existência de Deus de maneira racional.
  • Teologia Natural: Ele defendia que algumas verdades sobre Deus podem ser conhecidas pela razão natural, sem a necessidade de revelação divina, como a existência de Deus e alguns atributos divinos.
  • Lei Natural: Aquino ampliou a ética de Aristóteles para incluir a lei natural, argumentando que os princípios morais básicos são acessíveis à razão humana e refletem a ordem divina.

Diferenças e Ajustes

  • Criação Ex Nihilo: Ao contrário de Aristóteles, que acreditava que o universo era eterno, Aquino defendia a criação do mundo ex nihilo (a partir do nada), conforme a doutrina cristã.
  • Imortalidade da Alma: Aquino adotou a visão cristã da imortalidade da alma e da vida após a morte, enquanto Aristóteles tinha uma concepção mais limitada da alma e sua relação com o corpo.
  • Revelação: Para Aquino, a revelação divina fornecia verdades que estão além do alcance da razão, mas não em contradição com ela. Ele via a fé como um complemento à razão.

Cinco Vias para Provar a Existência de Deus

São Tomás de Aquino apresentou cinco argumentos clássicos para a existência de Deus, conhecidos como as “Cinco Vias”. Estes argumentos são baseados na observação do mundo natural e na aplicação da lógica aristotélica.

Primeira Via: Argumento do Movimento

  • Observação: Tudo que se move é movido por algo.
  • Raciocínio: Para que algo comece a se mover, é necessário que algo mais o mova. Não pode haver uma cadeia infinita de coisas movendo outras coisas.
  • Conclusão: Deve haver um primeiro motor imóvel que iniciou o movimento de tudo, e esse primeiro motor é Deus.

Segunda Via: Argumento da Causa Eficiente

  • Observação: Todo efeito tem uma causa eficiente.
  • Raciocínio: Não é possível que algo seja a causa eficiente de si mesmo. Se retrocedermos em uma cadeia de causas, não podemos seguir infinitamente para o passado.
  • Conclusão: Deve haver uma causa eficiente primeira, que não é causada por nada mais, e essa causa primeira é Deus.

Terceira Via: Argumento da Contingência

  • Observação: As coisas no mundo podem existir ou não existir; são contingentes.
  • Raciocínio: Se tudo pudesse não existir, então em algum momento, nada existiria. Mas, se em algum momento nada existisse, nada poderia existir agora (pois algo não pode surgir do nada).
  • Conclusão: Deve haver um ser necessário, cuja existência é obrigatória e não contingente, que deu origem aos seres contingentes, e esse ser necessário é Deus.

Quarta Via: Argumento dos Graus de Perfeição

  • Observação: Existem graus de perfeição nas coisas (bom, melhor, ótimo).
  • Raciocínio: Esses graus de perfeição são medidos em relação a um padrão máximo de perfeição. Devemos, portanto, admitir que há algo que é o mais verdadeiro, o mais bom, o mais nobre, e o mais perfeito.
  • Conclusão: Esse ser que é a causa máxima de todas as perfeições em todas as coisas é Deus.

Quinta Via: Argumento da Finalidade (Teleológico)

  • Observação: As coisas na natureza seguem leis e têm propósitos. Mesmo coisas sem conhecimento, como plantas e elementos, agem de maneira ordenada para atingir fins específicos.
  • Raciocínio: Essas coisas que carecem de conhecimento não podem mover-se em direção a um fim a menos que sejam dirigidas por algo que possui conhecimento e inteligência.
  • Conclusão: Portanto, existe um ser inteligente que dirige todas as coisas na natureza para seus fins apropriados, e esse ser é Deus.

Influência

  • Impacto na Igreja Católica: Tomás de Aquino foi canonizado como santo em 1323 e declarado Doutor da Igreja em 1567. Sua filosofia e teologia continuam a ser ensinadas e estudadas em seminários e universidades católicas.
  • Filosofia Moderna e Contemporânea: Embora sua influência tenha diminuído durante o Renascimento e o Iluminismo, o século XX viu um renascimento do interesse em suas ideias, especialmente no movimento neotomista.

A síntese de razão e fé proposta por Tomás de Aquino continua a ser um ponto de referência fundamental na filosofia e teologia ocidentais.

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